sábado, 29 de março de 2008

Open Door, precisa-se !

Independentemente de não ter sido a IBM a possibilitar-me as primeiras incursões a um mundo materialista, capitalista e consumista ( já tinha comprado automóveis, já tinha dado algumas voltas à Europa, já andara de avião, já vestia os meus fatinhos Pierre Cardin, já frequentava o Club Mediterranée, etc., etc., etc. ), reconheço que me capacitou para melhorar todos esses pormenores mas, mais importante, contribuiu fortemente na minha formação cívica e na lucidez de ver a vida que construí.
Com altos e alguns baixos, aquela casa sempre me admirou enquanto cidadã na persecução duma missão que tinha no tratamento dos seus colaboradores um ponto alto da sua imagem.
Ninguém é perfeito ( seria uma chatice, também ) mas associo sempre as fases menos boas às alturas em que se tornava individualmente muito portuguesinha.
Aí, vinham ao de cima sentimentos serôdios menos consentâneos com aquele paradigma empresarial e havia conflito(zinhos).
Porém, dentro da sua política operacional, eu dava um extraordinário ênfase ao programa Open Door que consubstanciava a abertura de espírito e colaboração que tanto me embebecia.
Através dele se expunha o contraditório entre os contraditantes, desenvolviam-se as démarches necessárias ao apuramento do problema, tomava-se mão de recursos internacionais se para tanto fosse preciso, e decidia-se em conformidade.
Reposta a calma, voltava-se ao dia-a-dia com um sentimento de justiça exercida.
Sempre senti o apoio da hierarquia quer se tratasse dum problema interno ( por menor que fosse ) quer se tratasse da força necessária ( anímica ou técnica ) no acompanhamento duma negociação quer ainda quando necessitei de força moral quando um problema de saúde teimou em me transtornar.
Aqui ficam, explicitamente, os meus agradecimentos.
Mas permita-se-me, uma vez mais, interligar tudo isto com a vida deste país no que aos problemas actuais diz respeito.
Muito me tem chocado ( dirão que estava a ser naïf em pensar que isto não era o corolário lógico ) não ver a Federação Nacional dos Professores na pessoa do seu correligionário Mário Nogueira vir a terreiro fazer um banzé idêntico ao que fêz com a greve dos profs na defesa da integridade da professora do Carolina Michaelis.
É certo que esse senhor afirmou que a insdisciplina não era uma prioridade a ser tratada, razão bastante para perceber o quão imbecil se torna quem subscreve a ideia a não ser, claro, a necessidade da manutenção do estado de sítio para depois, criado o caos, galgar para plataformas mais elevadas onde a CGTP lhe acenerá com o lenço encarnado !
Não nutro pela pessoa da ministra da educação qualquer simpatia mas reconheço que o patrão lhe devia ter dado um curso de gestão de conflitos e fosse solidário com ela dando-lhe o que nas empresas se chama um projecto especial o que na gíria significa ir para a prateleira, substituindo-a por alguém que, no mínimo, tivesse credibilidade. Nem que fosse, e apenas, durante o período de estado de graça. Enquanto o pau ia e vinha, folgavam as costas....
José Sócrates, na IBM, já tinha levado com um open door e tinha regressado ao seu biscate de projectista dando continuidade à concorrência que tanto abalou Siza Vieira ou Souto Moura...

7 comentários:

Anónimo disse...

Quem teve muitos altos e poucos baixo, quer dizer que foi bem tratado, teve quem admirasse o seu esforço.... mas isso é apenas uma vertente da hitória, houve também muitos que não foram bem tratados, e quanto à candura do Open Door, meu caro, sabes pouco dessa missa, e das perseguições a que muito boa gente foi sujeita, por beliscar os senhores do poder.
Também vi muita gente ser-lhe dada razão como resultado dos ditos Op.Door, mas para cima nunca vi consequencias.... NEVER, portanto cada um acredita no que quer, e se é feliz com uma memória cor de rosa tanto melhor!!!!!

António Matos disse...

Sempre que um comentário tão simples e inofensivo como o que acabas de dar necessita ser veiculado a um anónimo, deixa-me de pé atraz por poder esconder sentimentos reprimidos contra os quais nada tenho a ver.
Claro que a minha opinião reflecte, tão só, a minha e só a minha opinião, e espero que me permitas a liberdade de a expressar sem que isso seja tão censurável assim.
Espero que me conheças e daí conheças o meu percurso na IBM. Se assim fôr, saberás que nem sempre os meus tempos foram pêra doce muitas das vezes por me ter insurgido violentamente com as hierarquias e NEVER mandei recados por ninguém, nem mesmo anónimos !
Cada um é feliz à sua maneira e acredito que possas ter sido daqueles que não se sentindo bem naquela casa, saiu e procurou melhor. Foi ?
Também quero acreditar que o teu comentário não foi motivado por razões de melindre político mas se o foi, não acho bem pois manifestava uma reacção de frustação perante uma qualquer injustiça e estarias a tentar aquilo que se passa a níveis mais gerais : não acreditar na justiça por a mesma não ter sido aplicada a outros de acordo com os nossos parâmetros.
Conclusão : reconheço-te o direito de discordares das minhas opiniões que, convenhamos, não são aqui expostas para serem aplaudidas ! São-no somente para as expressar ! São as minhas recordações !
Mais tarde podemos falar sobre recordações menos boas e nessa altura abrirei o diálogo ( para já, de surdos )aos outros discordantes, valeu ?

F. Penim Redondo disse...

Eu ouv muitas histórias sobre o "open door" durante os 12 anos na CT.
A minha opinião é a seguinte: o "open door" era um instrumento da IBM para garantir o esvasiamento das tensões. Como é próprio das situações deste tipo muitos empregados usaram esta "abertura" para tentar lutar contra injustiças que lhes faziam.

Claro que houve casos de sucesso e outros de fracasso.
Uma coisa é certa, na sua época o "open door", como outras políticas de gestão de pessoal da IBM, era um mecanismo muito avançado e sofisticado.

Júlio Branco disse...

Nunca tive dúvidas quanto à eficácia do "Open door", (se fosse bem usado), acontece porém, que, e aqui concordo com o Penim, era um mecanismo sofisticado para a cultura e princípios de uma grande parte da população, se não da maioria, da linha dos Menager's. E aqui o afirmo com conhecimentos de causa. Após e durante uma investigação do "Open Door" e actuação em conformidade, existia uma avassaladora perseguição ao colaborador que o pleiteou. E se esse colaborador tivesse o azar a ser classificado no "AC" pelo litigante, era garantido um Rate 4.
Acho, e na minha opinião que o colega António Matos, falou num assunto muito sensivel.
Em parte até concordo com a suspeição do funcionário público... Quem os vai avaliar? Será que têm capacidade para o fazerem? Será que têm princípios de parte a parte para avaliarem e serem avaliados? Não se esqueça caro colega, que as avaliações por objectivos, são de origem de um povo com princípios culturais de há muitas décadas para trás. Sei que alguma vez tem que se começar e ontem é tarde, daí ser, o que já frisei, ser um assunto muito melindroso, e ter-se muito cuidado em se abordar nesta ferramenta de trabalho.
Pois caro colega falo assim, porque sofri na "pele" durante anos a fio pelo facto de ter manifestado, na então minha opinião, ter sido injustiçado várias vezes por quem me avaliava.
Júlio Branco

António Matos disse...

Piquenas picardias tais como :
- "meu caro, sabes pouco dessa missa" ;
- "se é feliz com uma memória cor de rosa tanto melhor!!!!!" ;
- "Não se esqueça caro colega, que as avaliações por objectivos, são de origem de um povo com princípios culturais de há muitas décadas para trás"
- "Pois caro colega falo assim, porque sofri na "pele" durante anos a fio pelo facto de ter manifestado, na então minha opinião, ter sido injustiçado várias vezes por quem me avaliava."

contribuem pouco para um ambiente saudável que se pretende neste blog e faço já um apelo às provectas idades de que nos aproximamos a passos largos para que consigamos relembrar as coisas boas e as menos boas com algum fairplay e não nos tornemos nuns marretas recalcados!

Se o stress pós-traumático da IBM nos estiver a retirar qualidade de vida, devemos aproveitar o facto de a doença já ter reconhecimento oficializado para nos debatermos por uma qualquer subvenção que nos ajude a complementar o pecúlio de que dispomos.

Se mesmo assim continuarmos depressivos, convido os pacientes a virem ter comigo a uma qualquer pista de karting por esse país fora e deitar fora toda essa adrenalina !
Depois repõem-se os níveis de colesterol, triglicéridos e outros à mesa duma tasquinha tipicamente portuguesa. Que tal ?

Júlio Branco disse...

António,
Sobre o teu último comentário, estou como o outro diz: "NO COMENT"
Cada um tem aquilo que mereçe.
Júlio Branco

António Matos disse...

DN - 4/4/2008
Três meses de atraso implicam cobrança automática de dívida.
A Segurança Social prepara-se para avançar com um novo mecanismo de gestão da dívida que vai agilizar e acelerar a cobrança aos devedores. Bastarão três meses de atraso no pagamento das contribuições sociais à Previdência para que a dívida passe automaticamente para a fase executiva, (…)

Esta faz-me lembrar os célebres days outstanding com a diferença de que no nosso tempo, na IBM, tínhamos que esperar 365 ou mais dias de atraso no pagamento das dívidas para ser despoletado um processo de cobrança coerciva ainda que, muitas vezes, sem qualquer efeito.

Atenção : isto não é política ! É, tão só, o paralelismo da política com essa "santa" que era a IBM !!!