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Há exactamente 34 anos fui preso pela Pide. Quando saía de casa para o emprego, na praceta adjacente, fui interceptado por cinco ou seis homens que me forçaram a subir de novo ao terceiro andar.
Obrigaram-nos a sentar, a mim e à minha mulher, enquanto passavam a casa a pente fino perante o espanto do meu filho Mário de três anos. Encontraram vários livros, tanto romances como ensaios, que consideraram suspeitos e que apreenderam. Também apreenderam algumas fotografias de índole pessoal.
Numa incompetência que então me pareceu miraculosa manipularam e acabaram por deixar intacto um enorme pacote, amarrado com uma corda, que continha centenas de Avantes.
Depois disso ordenaram-me que os acompanhasse para me fazerem algumas perguntas.
Uma hora depois tive a horrível experiência de ouvir a chave da cela a rodar metálicamente nas minhas costas. Contara sem dar por isso, uma a uma, todas as portas que se tinham fechado desde que entrara em Caxias.
A Maria Rosa, depois de queimar a papelada na sanita, foi à António Maria Cardoso exigir a minha libertação tendo sido também presa.
Nós fizemos parte do último grupo de pessoas (18 salvo erro) presas antes do 25 de Abril.
sexta-feira, 18 de abril de 2008
Um caso como tantos outros, em Abril
Publicada por
F. Penim Redondo
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3 comentários:
Aqui fica a minha participação nesta história. Nesse dia, não apareceste na IBM. No dia seguinte, foi a vez da Rosa.
À hora do almoço, a Carolina Mega (por onde andará?) pediu-me para ir com ela a vossa casa para confirmarmos o que parecia certo – e era.
Telefonei depois ao Ernesto de Sousa, que era Director de Pessoal, para o avisar «oficialmente». Pediu-me que fosse explicar-lhe pessoalmente, razão pela qual fui, nesse dia, pela primeira vez a Alvalade (Marketing ainda estava nos últimos dias da Duque de Palmela, já que mudámos antes do 25 de Abril).
Nos corredores, discutiu-se muito a PIDE e os seus métodos. Havia pessoas que não sabiam nada, que não queriam acreditar que aquela polícia batia e torturava. Uns dias depois estavam a gritar pelo povo unido – ainda bem, digo eu, e, acreditem ou não, sem nenhuma ironia.
Fernando, cá para mim fizeste de propósito para seres herói do 25 de Abril...
...................................Desculpa a brincadeira, pois sabes bem que respeito muito aqueles que sofreram nas mãos da PIDE, aos quais devemos, em parte, a LIBERDADE que hoje gozamos.
E já que estamos tão perto daquele dia maravilhoso, sabe-me bem lembrar a alegria que senti ao contemplar todos aqueles rostos que saiam de Caxias, ainda mal acordados de um tremendo pesadelo.
O vosso caso particular (teu e da Rosa), sei que causaram forte emoção em muita gente na Companhia.
Caro Mariano,
realmente sinto-me privilegiado por ter vivido aquela saída de Caxias no dia 26 de Abril.
Um momento mágico daqueles poucos que vivemos numa vida inteira.
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