terça-feira, 8 de janeiro de 2008

A nossa história fez-se com os que já partiram.

Poderá parecer sórdido mas eu gostaria de começar esta minha colaboração no “ibmemorias” apelando exactamente à memória de alguns Amigos cujo dramatismo dos seus desaparecimentos prematuros me perturbou de sobremaneira.

Com cada um deles partilhei histórias de grande cumplicidade pessoal e profissional daí que sejam para mim, referências incontornáveis da minha vida enquanto IBMer .

Outros se despediram já mas refiro-me àqueles com quem mais intimamente me relacionei durante quase 3 dezenas de anos .

Carlos Alberto Carvalho do escritório do Porto.
O seu porte elegante e sentido de humor apuradíssimo, escondia na sua pequena gaguez um colega extraordinário.
Recordo-o aquando duma acção de formação em Sesimbra com o título genérico OP Dialog.
Estávamos no primeiro ano de vendas onde os habituais acrónimos nos eram lançados sob a forma de verdadeiro “achincalhamento” perante a nossa posição de “maçaricos”.
Fazíamos parte do mesmo grupo de trabalho que teria que fazer uma apresentação a um hipotético cliente e onde lhe debitaríamos o maior número possível de argumentos.
O Carlos, com muita graça, avança para a improvisada mesa de apresentação onde se encontrava um retroprojector e expõe o até aí escondido montão enorme de folhas de papel que formariam a sua apresentação.
Claro será dizer que isso causou um verdadeiro sururu perante a classe que se viu na eminência de ter que o ouvir durante horas a debitar toda aquela informação ….
De imediato se percebeu que, afinal, só a 1ª página tinha matéria de atenção e tudo deu origem a grande gozo !

Manuel Lima e Silva
Ligavam-nos laços de amizade ímpares.
Conheci-o nos Açores quando ambos fomos mobilizados para a Guiné.
Pertencíamos à mesma companhia .
Uma hepatite declarada a uns dias do embarque, porém, deixou-o no hospital de Ponta Delgada.
Anos mais tarde, e pela mão dele, vou ao serviço de pessoal da IBM na Duque de Palmela dar o nome para me inscrever para uns testes psicotécnicos.
Casámos no mesmo dia, ele em Queluz, eu em Esposende.
Por verdadeiras coincidências, os nossos primeiros automóveis eram iguais.
Fomos colegas no OP.
Indescritíveis ficaram a ser as convenções onde o Manel participava.
Na viagem para uma delas, no avião, apercebemo-nos que um casalinho estrangeiro levava, clandestinamente, uma cesta com um gato o qual, a páginas tantas, deu-lhe para lançar uns mios estridentes provocando uma azáfama desmedida nas hospedeiras para ver se descobriam o bicho.
O Manel, com a sua capacidade humorística e de imitação inexcedíveis, de imediato se agacha entre as cadeiras da fiada central do avião e começa a grunhir como um porco e tão convincente o foi que provocou uma hilariante desarrumação quando recebeu toda a nossa “colaboração” na apanha do suíno.
Foi o suficiente para o desgraçado do gato passar a esquecido

Alexandre Belo
Bonacheirão na sua postura, levava a vida com uma filosofia de grande companheirismo granjeando simpatias com a mesma facilidade com que entoava estridentes gargalhadas.
Nutria pelo Alexandre uma amizade muito sincera e com o seu desaparecimento também de mim desapareceu uma quota-parte da alegria dos momentos da doce loucura da juventude.
Partilhámos hundred percent clubs por esse mundo fora e teve a sua coroa de glória ao vencer um concurso interno e candidatar-se em Paris ao melhor vendedor da Europa.
Julgo que não o ganhou mas ao visionarmos a cassete da prova final, percebemos que o Alexandre estava para esse concurso como a Simone de Oliveira ou o António Calvário ou todos os outros estavam para o eurofestival. Ganhavam os outros !

José André
De uma geração IBM mais nova do que a minha, desde cedo imprimiu à sua carreira um layout de competência aliado à sua inquestionável adesão à parte lúdica que aqueles tempos nos permitiram e daí a integrar-se no grupo dos mais velhos foi apenas uma consequência lógica.
Apareceu na IBM de motoreta que deixava presa numa árvore com uma correia ferrugenta.
Entrou directamente para o OP e como na altura começou a haver o carro da casa, esperou algum tempo até que lhe fosse entregue um deles ( Opel Kadet ) e, entretanto, ia para os clientes na motorizada e com os catálogos debaixo do braço …
Proporcionava ao grupo alguns extraordinários banquetes no seu apartamento do Alto da Barra no qual se “conspirava” contra as dificuldades da vida …..
Naquele tempo, ainda os vendedores de automóveis ( Alfa Romeo, por exemplo ) se deslocavam à IBM para mostrarem os automóveis aos eventuais compradores !!!
Singrou na carreira e desenvolveu também o seu gosto pelos carros.
Foi dos primeiros a aparecer com um descapotável ( Honda Civic ) e de imediato me convidou a experimentar o bólido. Lá fomos até Setúbal onde nos deliciámos com uns robalos escalados à maneira …
A relação extra profissional consolidou-se de tal forma que o seu adeus foi-me particularmente penoso naquele sábado de Julho de 2001.
Na fatídica 125 .

Da saudade não nos libertamos e daqui lhes envio um enorme abraço, estejam eles onde estiverem, em nome dum sentimento bonito que teve na IBM a sua génese.

Garcia de Matos

1 comentário:

F. Penim Redondo disse...

Bem vindo Garcia de Matos, o teu depoimento sentido revela bastante acerca dos colegas que decidiste homenagear.
Contamos contigo para enriquecer o IBMemórias.