domingo, 20 de janeiro de 2008

O meu Alfa Romeo GN-40-14

Perde-se no tempo o despertar da minha paixão pela “arte” de conduzir um automóvel.
Chegada a idade dos 18 anos, os nossos pais tinham que declarar conceder-nos a emancipação com a qual, e só com ela, nos poderíamos candidatar ao exame de condução ou então, aguardar calmamente pelos 20 anos.
Por isso, em 02 de Janeiro de 1968, é-me passado o documento que me habilita a conduzir legalmente.

Acto contínuo adquiri um Peugeot 203 com caixa de 3 velocidades ( 1ª, 2ª e super-prise ) pela fabulosa quantia de 10 contos ( hoje 50 € ) cuja matrícula, PP-13-88, o baptizou graciosamente como o Peugeot das Pequenas.

Dois anos mais tarde é substituído por um outro Peugeot, um 403, ao qual lhe atribuí a função principal de cumprir com a campanha de Mafra.

Entre Outubro de 1969 e Março de 1970, e não atendendo à sua provecta idade, foi duramente violentado com viagens todos os fins de semana entre Mafra - Guimarães, Guimarães -Mafra com 6 militares lá dentro e as respectivas trouxas de roupa, agora lavadinhas que as nossas Mães preparavam para nos facilitarem a vida.

Em Setembro de 1970 embarco para a Guiné e o Peugeot foi vendido a peso num ferro velho. Foi a única maneira do meu querido Pai se conseguir desfazer dele !!!

Três anos depois, e com o ingresso na IBM, tive hipóteses, com a independência financeira que adquiri, de dar largas ao entusiasmo e fazer aquilo que hoje apelido da minha colecção de automóveis.

Esta parede dum pequeno refúgio meu na zona de Peniche mostra uma parte do que vos falo mas vou contar uma cena curiosa relativamente ao fabuloso GN-40-14, um Alfa Romeo Giullia 1.6 que durante algum tempo foi o meu automóvel na IBM.

Comprei-o em 1975 pois o dono tinha-o fechado numa garagem com medo de ser considerado fascista e pudesse vir a ser pendurado uma varanda pela ostentação de tal sinal evidente de riqueza.

Um belo dia, e após uma bem sucedida manhã comercial, trazia eu algumas notas de encomenda devidamente assinadas e resolvi ir almoçar a casa dos meus Pais.

Goraram-se-me os planos pois, por volta do meio dia, em Benfica, fui vítima de assalto violento à mão armada e raptado para lugar bem ermo, algures perto dos Viveiros de Rosa Bacará .

Confesso que senti a precaridade da vida e cheguei mesmo a imaginar um fim inglório e injusto para quem tanto lutava por a gozar …..

Felizmente que ao fim de várias horas me vi livre daquele pesadelo não sem que tenha adoptado desde logo comportamentos defensivos que me acompanham e acompanharão para o resto da minha vida .

Fiquei , contudo, com a indelével recordação de ter usufruído dum automóvel que a IBM me permitiu adquirir num misto de necessidade e prazer.

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