terça-feira, 9 de outubro de 2007

Programas com cartões de 80 Colunas


Apresento aqui uma tool usada não só pelos CE'S, como também pelos grandes programadores da altura, para que os "furinhos rectangulares" tivessem bem calibrados nos cartões.

Lembro aos mais novos, que todos os programas na altura eram feitos com milhares destes cartões, e bastava que se perdesse um deles, ou saíssem da ordem para que todo o programa se danificasse, por exemplo o não pagamento dos salários de enormes fabricas, a gestão de uma produção fabril, a cobrança da ex CRGE aos seus consumidores de energia, Lisnave, Setenave, Fabrica de Lanifícios Simões, etc, etc.

Começou-se com perfuração com as "029", se não estou em erro, e se tiver corrijam-me, porque não estava na IBM, no inicio da década 60. Em 1980 ainda se utilizava algumas destas perfuradoras usando-as para recuperação de dados antigos, como por exemplo a CRGE e a ENI. Quem não se lembra destas empresas?
Lembro-me de alguns episódios, um deles era quando a leitora dos cartões estava a efectuar o trabalho para a saída de listagens com destino a pagamentos de salários, a máquina por avaria, acelerou, os cartões voavam pelo ar e se escondiam por tudo quanto era sítio, pairava uma tristeza em todos os presentes... nem calculam.... já não havia pagamentos de salários no dia seguinte. Todos os presentes, inclusive funcionários da IBM, CE'S e Programadores, passaram toda a noite de "rabo" para o ar a procura-los e apanha-los, para os colocarem por ordem. Mas não era um ou dois cartões, eram milhares deles, conseguiu-se com a colaboração de todos atrasar a entrega das listagens no Banco para o respectivo pagamento só em quatro horas, o que foi para todos nós uma vitória.
Façam agora uma ideia o que poderia acontecer, foi num ano politicamente bastante"quente" por tudo ou por nada fazia-se uma manifestação, ou uma greve, agora vejam qual seria a posição da IBM na altura, se não houvesse pagamentos de salários atempadamente? Mas felizmente tudo correu bem graças à colaboração de todos os presentes pois ninguém arredou pé enquanto as listagens não saíram da impressora.
Júlio Branco

2 comentários:

Mariano Garcia disse...

O Júlio Branco conta-nos com algum dramatismo uma situação extrema, cuja causa situa numa avaria da leitora do computador. Mas os episódios, com cartões voadores eram bem mais frequentes do que se possa imaginar, pois diariamente se ordenavam e intercalavam, em alta velocidade, muitas dezenas de milhares de cartões. Porém, na sua maioria, eram episódios burlescos, que apenas obrigavam os operadores a mais umas horas de trabalho forçado. Estou a ver... naquele fim de tarde extenuaante, o Craveiro Saraiva, depois de umas seis ou sete horas de trabalho esforçado, dava por terminada a preparação de mais de 50 mil cartões do processamento da Valentim de Carvalho e conduzia alegremente, rumo à 1401, o seu carro de transporte... eis que na fatídica rampa este se virou e todos aqueles cartões se espalharam pela sala, obrigando todos que estavam perto, à triste tarefa já descrita pelo Júlio. Era uma noitada garantida para o Saraiva e mais um ou outro que se disponibilizava para ajudá-lo. Isto, num tempo em que se não falava de horas extraordinárias...
Extraordinário, era o espírito de amizade e solidariedade que unia muitos de nós e o empenhamento profissional que nos dominava.

Guilherme da Fonseca-Statter disse...

Já agora... Ainda hoje me recordo berro de fúira incontida - nos idos de 72 - quando descobri (ao fim de umas horas) que um determinado programa não havia meio de "correr" (compilar) por causa de um desses furinhos mal furados...
Ou aquela de um funcionário da alfândega de Luanda que abriu uma caixa com um compilador de FORTRAN (a cartões...) e se pôs a mexer naquilo "para ver o que era"...