Caríssimos, que então trabalhavam no escritório de Lisboa: não assobiem para o lado. Estávamos lá quase todos (mais de quatrocentos, segundo os meus registos) e a moção foi aprovada por larguíssima maioria, quase unanimidade.
Coisas da História – que não se apagam...
MOÇÃO
As forças dos monopólios e dos latifundiários lançaram mais um ataque contra o processo revolucionário iniciado no 25 de Abril.
Aproveitando-se da impunidade com que actuaram no 28 de Setembro, da presença entre nós de agitadores internacionais ao serviço dos potentados económicos, tentaram mais uma vez fazer regressar o fascismo com todo o seu cortejo de crimes de exploração e opressão.
Mais uma vez os trabalhadores se ergueram aos milhares, com os seus sindicatos e com os partidos verdadeiramente democráticos e defenderam, na rua, a liberdade de levar a Revolução até às últimas consequências.
Os trabalhadores da IBM, pondo-se ao lado da massa dos trabalhadores portugueses, exigem:
1 – Castigo exemplar para os contra-revolucionários.
2 – Expulsão dos agitadores estrangeiros que tentam levar o nosso país para a guerra civil.
3 – Aplicação imediata de medidas económicas e sociais que, retirando aos monopólios e latifundiários o poder de que ainda efectivamente dispõem, tornem realmente irreversível o processo revolucionário.
4 – Proibição de todos os partidos que efectivamente estão do lado da reacção.
5 comentários:
Tinha eu 14 anos. Mas o teor e a linguagem demonstra a "fogueira" que então se vivia. Era Portugal à 33 anos atrás. Não há que fugir. Foi assim. Dai muito do que aconteceu a seguir.
Vou ser franco ! quando escrevo um post / comentário e depois, por artes de berliques e berloques, o mesmo se esfuma sem deixar rasto, confesso que sinto uma frustação do quilé !
É verdade, aconteceu mais uma vez !
Desta feita até dirigi uma “reclamação” ao Fernando Penin Redondo mas …. fui apanhá-lo na Índia o que, segundo ele, não lhe dava jeito para averiguar …
Estas coisas dos comentários são ( no meu caso ) reacções imediatas a um qualquer post e portanto caracterizam-se por serem versões únicas, sem cópias.
Vou, portanto, tentar recordar o que disse ontem à noite.
Cara Joana Lopes, é sempre um prazer ler-te e comentar-te, mesmo que seja por discodar.
O distanciamento de 33 anos da data assinalada no teu post leva-me a levar em linha de conta o desfazamento daquela moção relativamente aos dias de hoje cuja leitura me parece mais uma peça humorística digna de reposição numa revista de parque Mayer do que propriamente uma reivindicação dos trabalhadores da IBM da época.
Seria até interessante saber quais dentro daqueles que a assinaram, hoje não têm uma visão diametralmente oposta.
É, pois, natural que todos eles assobiem mesmo para o lado na tentativa de esquecerem que um dia o fizeram !
É que afinal de contas não foi necessário levar àvante a matança do Campo Pequeno ( ponto 1 ), nem expulsar os estrangeiros mas antes convidá-los a virem ajudar-nos com os seus investimentos ( ponto 2 ), dinamizar a propriedade privada para incrementar o empreendorismo ( ponto 3 ) , e manter os partidos políticos pois foi na diversidade que se consolidou a democracia ( ponto 4 ).
Neste particular tem havido outras tentativas ( veja-se recentemente o problema do número “X” de assinaturas para viabilizar as suas existências ) mas que candidamente nunca mais se falou nelas….
Garcia de Matos
Garcia de Matos,
Ainda bem que escreves, isto anda pobre de comentários!!
Claro que NINGUÉM subscreveria hoje uma Moção daquelas. Mas ela existiu e é sempre útil, na minha opinião, recordar o que foi tecendo a nossa História. Era isso que eu queria dizer com o «não assobiem para o lado». Esquecer porquê?
Haverá certamente muitos que prefeririam que mesmo o passado tivesse sido outro - mas não foi...
Um abraço para ti.
E que venham mais comentários.
Olá Joana, obrigado por te lembrares de um assunto "tão forte". Estavamos mesmo a precisar de uma boa polémica para acordar.Fui dos que aprovei essa moção, porque então percebia o seu alcance. Hoje ninguém se exprimiria em tais termos, é verdade. Mas não me arrependo de nenhuma das minhas atitudes de então, ainda que procurasse sempre colocar-me entre os moderados (entenda-se que nunca fui nem sou comunista). É demasiado falacioso justificarmos as dificuldades que ainda temos, depois de mais de trinta anos, com os erros cometidos nos primeiros meses após o 25 de Abril. Estavamos todos a aprender... e o maior mal é que muitos aprenderam muito pouco e procuraram apenas os interesses pessoais, em vez da afirmação de um País solidário e progressista.
O resultado está bem à vista...
Obrigada, Mariano Garcia. Só hoje voltei a esta Caixa de Comentários e vi o que tinhas escrito.
Também acho que estávamos todos a aprender e que só nos ajuda relembrar estas marcas fortes que, para o bem e/ou para o mal, moldaram muito das nossas vidas.
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